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Voltar Agropecuária: Carne Bovina

(Extraído de artigo do Caderno Setorial ETENE. O Artigo completo pode ser acessado neste link)   

1 Conjuntura Mundial

A recuperação da economia asiática tenderá a manter a demanda e os preços internacionais elevados ao longo do ano, sob o alerta do lockdown chinês, com recuo a partir de 2023. Na China, as importações de gado e carne bovina devem cair para 300 mil cabeças e 2,5 milhões de t respectivamente, em 2023, em uma perspectiva econômica menos otimista e oferta global apertada. Para este ano, a China e os Estados Unidos devem manter aquecidas as importações de carne bovina brasileira enquanto durar o conflito Rússia vs Ucrânia.

2 Conjunturas Nacional e Nordestina

No cenário macroeconômico interno, o curto prazo será marcado por desdobramentos do desfecho do processo eleitoral sobre a perspectiva política de um novo governo, com destaque para a expectativa das regras do controle fiscal no País. Em geral, o desempenho da pecuária está influenciado pelos seguintes fatores:

a) Inflação sobre a renda: queda do poder de compra da população pela alta crescente da inflação. O IBGE - IPCA (2022) de setembro foi de -0,29%. Neste ano, o IPCA acumula alta de 4,09% e, nos últimos 12 meses, 7,17%;

b) Inflação sobre bens e de serviços: alta dos preços dos principais insumos de produção, como energia elétrica, combustível, grãos (milho e soja), animais para engorda e de reposição. Na comparação com setembro de 2021, em setembro de 2022, os preços das sacas de soja e de milho variaram de -5,76% (157,66 para 166,75 R$/saca) e 16,72% (90,16 para 77,24 R$/saca), nesta ordem, segundo dados da Conab (2022);

c) Demanda externa aquecida: no comércio global de carne bovina, o Brasil em outubro de 2022 teve queda no resultado obtido no faturamento, US$ 1,19 bilhão com embarque de 211,8 mil t, quando comparado com setembro/2022, US$ 1,31 bilhão com 229,2 mil t, -7,23% (US$) e -7,58% (kg), respectivamente. Por outro ângulo, as exportações de outubro/22 foram recorde na série histórica desde 2018, saindo de 161,3 mil t para 211,8 mil t e de um faturamento de US$ 618,6 milhões para US$ 1,19 bilhão (Figura 1);

d) Clima: Os efeitos do La Niña estenderam-se ao longo de 2022, causando secas significativas no sul do Brasil, e chuvas abundantes e excessivas no Sudeste e Centro-oeste do País, comprometendo a oferta e a qualidade das pastagens bem como perdas de produção causadas a culturas como milho e soja.

2.1 Comércio exterior

No acumulado de janeiro a outubro de 2020 em comparação com o mesmo período de 2022, o Brasil aumentou as vendas de carne em 64,38% (US$) e 17,18% (Kg), e o Nordeste 27,52% (US$) e 9,03% (Kg). No geral, no volume acumulado de janeiro a outubro de 2022, os embarques de carne bovina atingiram 1,91 milhões de t (28,43%); superando os embarques de carne suína, de 906,8 mil t (13,44%) e perdendo liderança para os embarques de carne de frango, na ordem de 3,92 milhões de t (58,12%). No Nordeste, por sua vez, os embarques de carne bovina mantiveram liderança em relação às outras carnes com 9,97 mil t (59,81%), seguidos da carne de frango 6,58 mi t (39,49%) e carne suína 115,2 t (0,69%). 

Em 2022, o Brasil exportou carne bovina para 178 países, e o Nordeste, para 82. A demanda por carne bovina brasileira está elevada desde 2021, apesar dos impactos da pandemia e do embargo da China às importações do Brasil em setembro-dezembro de 2021. Em 2023, espera-se que a demanda global continue elevada, apesar do possível início da recessão econômica global e do conflito em curso na Ucrânia. Tal demanda será essencial para os exportadores brasileiros de carne bovina, já que a procura doméstica deve permanecer baixa, ainda atribuída a menor renda disponível nas classes médias-baixas e aos altos preços da carne no varejo. A elevada participação da China na demanda mundial, associada à sua rápida recuperação econômica, e ainda, sob influência de problemas sanitários em seus plantéis de aves e de suínos, deve continuar mantendo o canal de escoamento da proteína animal brasileira. O Nordeste, por sua vez, obteve bom desempenho nas exportações de carnes durante o acumulado de janeiro a outubro de 2022, em especial a carne bovina que, na comparação ao mesmo período de 2020, altas de 27,52% (US$) e de 9,03% (Kg). As exportações de carne bovina brasileira, somam neste período, US$ 11,59 bilhões, com o embarque de 1,97 milhões t, sendo que a maior parte das exportações nordestinas foi destinada à Ásia, US$ 13,68 milhões (32,7%), especificamente Hong Kong (Região Administrativa Especial da China), além do Uruguai, US$ 9,19 milhões, (21,96%) do total das exportações do Nordeste.

Figura 1 – Desempenho das exportações de carne no Brasil (bilhões US$) e no Nordeste (milhões US$). Acumulados de janeiro a outubro

Fonte: ComexStat (2022), adaptado pelos autores.

Comparando-se o acumulado de janeiro a outubro de 2022 com o mesmo período de 2021, foram destaque as exportações nordestinas para o Uruguai, que cresceu 53,12% em volume (kg), e 70,50% em valor (US$). Outro parceiro importante para o Brasil e o Nordeste é o Oriente Médio, que tem no Brasil a alternativa comercial ao produto americano. Entre 2021 e 2022, o volume nordestino embarcado para estes países cresceu 69,57%, de pouco mais de 961 para 1,6 mil t, e variação ainda maior no valor negociado, de US$ 4,60 para US$ 8,46 milhões, alta de 83,74%. Por outro lado, ao considerar as exportações por estado nordestino, no acumulado até outubro deste ano em relação ao mesmo período de 2021, houve declínio nos embarques da carne bovina em praticamente todos os estados, tanto em volume (kg) como em faturamento (US$). Ainda assim, o Maranhão e a Bahia continuam se destacando nas exportações, pois além da infraestrutura logística de escoamento da produção, têm tradição na pecuária de corte em pastagem cultivada, além de serem estados produtores de grãos com alta tecnologia, inseridos na delimitação MATOPIBA.

2.2 Abate

O abate total de bovinos no País até o 2T2022 foi em torno de 7,37 milhões de cabeças. Esse resultado superou em 5,67% o 1T2022 e em 3,55% o mesmo período do ano anterior. A produção total de carne também se destacou, com alta de 5,60%, de 1,84 para 1,94 milhão t, entre o 1T e o 2T2022 e em relação ao mesmo período do ano anterior, a variação do peso total da carcaça, foi de 8,97%, de 1,73 para 1,89 milhões t. A região Norte apresentou menor tendência de crescimento nos abates em relação às outras regiões, na variação do 1T para o 2T2022, em torno de +1,77%. Em contrapartida o Nordeste aumentou de +8,02%, antecedendo apenas a Sudeste com +17,10%. O Nordeste, no 2T2022, teve a melhor recuperação relativa, com alta de 30,32%, de 488 mil para 636 mil cabeças, seguidos do Sudeste, (27,15%), Norte (10,41%) e Centro-oeste (7,97%). No Nordeste, entram na linha de abate os animais terminados no final do período das águas, ou período chuvoso. Não obstante, parte da oferta de animais para abate nos pequenos municípios é oriunda também da bovinocultura leiteira.

Com o reaquecimento da economia, nos períodos mais recentes de maio a junho deste ano percebe-se a tendência de aumento do consumo para fontes proteicas de maior valor agregado. Apesar disso, o poder de compra da população por carne bovina ainda deve seguir fraca, com a substituição por carne de frango e suínos. Os preços relativamente baixos da carne de frango frente as outras carnes concorrentes (bovina e suína) têm sido o principal atrativo para os consumidores. Por outro lado, o custo de produção também tende a se manter elevado, pressionando as margens da atividade. 

Destaca-se ainda, como fator de pressão sobre a rentabilidade e a lucratividade dos sistemas de produção, os elevados custos dos insumos como os grãos, energia elétrica, combustíveis e fertilizantes. Ademais, o repasse ao consumidor é um desafio, sufoca as margens de rentabilidade e de lucratividade do setor produtivo e da indústria. De acordo, com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) (2022), a alta no preço da soja, notadamente no mês de março, impactou no preço no boi gordo, estabelecendo a menores relações boi/soja do quadrimestre, tanto a nível nacional como no Nordeste.

2.3 Projeções

Quadro 1 - Dados observados e projeções

Fonte: EMIS/ISI Emerging Markets Group Company: LCA Consultores (Cenário LCA, 2022) e Tendências Consultoria Integrada (Agronegócio: Relatório Mensal – Setembro 2022). Elaboração dos autores.

• De acordo com as projeções do Quadro 1, destaca-se neste ano a retomada positiva do mercado de carnes, com enfoque para a carne bovina e com projeção positiva para 2023, mesmo ponderando-se a influência do atual cenário econômico global frente a pandemia e os desafios do conflito Rússia/Ucrânia;

• Enfim, para 2023, o mercado de carne bovina opera em cenário ainda complexo, cercado de incertezas, os preços da carne bovina seguiram pressionados pela inflação, fator que limitou o poder de compra da população; e sufocou o setor produtivo e a indústria pela pouca margem de repasse de aumento de custos e, consequentemente, restringindo as margens de lucratividade e de rentabilidade. Então, a alternativa da maioria da população tem sido cortes e carnes mais baratos e, ainda, de processados, vísceras e ovos.

Autores: Kamilla Ribas Soares, Doutora em Zootecnia, Zootecnista e Coordenadora de Estudos e Pesquisas do ETENE/BNB, e Luciano Feijão Ximenes, Doutor em Zootecnia, Zootecnista e Gerente executivo da Célula de Estudos e Pesquisas Setoriais do ETENE/BNB.

Fonte: Caderno Setorial Etene