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Voltar Produção de algodão

Esta análise discute aspectos de produção e de mercado do segmento de algodão. Mais especificamente às atividades relacionadas à classe 01.12-1 (Cultivo de algodão herbáceo e de outras fibras de lavoura temporária), da Classificação Nacional de Atividades Econômicas, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - CNAE/IBGE.

O Brasil é o quarto maior produtor mundial de algodão, atrás de Índia, China e Estados Unidos. Esse cinco países responderam por 78% do total da fibra produzida no planeta na safra 2018/2019. O País tornou-se o segundo maior exportador mundial, perdendo apenas dos Estados Unidos, superando a Índia nesta safra. A produção mundial para a safra 2019/2020 é estimada em 26,55 milhões de toneladas, aumento de 2,6% sobre a última safra, de 25,86 milhões de toneladas.

A produção nacional prevista para a atual safra (2019/2020) é de 2,73 milhões de ton, numa área total de 1,64 milhão de ha, recorde da série histórica, que sinalizam aumento de 0,04% em produção e de 1,6% em área em relação à safra 2018/2019. O bom desempenho se justifica pelos grandes investimentos feitos no setor, e pela expansão de área cultivada, principalmente em Mato Grosso e Bahia, consequência das boas perspectivas de mercado (Tabela 1).

Tabela 1 - Produção de algodão em pluma no Brasil, na última década, por regiões e estados selecionados, em mil toneladas

Região/UF 2010/11 2011/12 2012/13 2013/14 2014/15 2015/16 2016/17 2017/18 2018/19 2019/20*
Norte 7,5 8,5 7,3 7,4 11,8 8,7 10,1 11,9 25,0 25,4
Nordeste 689,9 541,6 397,9 534,6 489,4 283,6 390,7 546,2 664,4 683,2
MA 27,7 28,8 26,2 30,4 34,1 33,0 35,2 34,9 41,1 43,0
PI 26,6 28,9 14,5 19,7 20,1 2,7 8,5 11,9 24,8 30,8
CE 1,1 0,1 0,1 0,5 - 0,1 0,2 0,3 0,3 0,3
RN 0,8 0,1 0,1 0,6 0,5 0,5 0,5 0,5 0,4 0,5
PB 0,3 - - - 0,1 - 0,1 0,2 0,2 0,2
BA 633,1 483,6 357,0 483,3 434,6 247,3 346,2 498,4 597,6 608,4
Centro-Oeste 1.187,2 1.259,8 869,7 1.152,2 1.029,2 963,9 1.102,3 1.399,6 1.952,0 1.936,9
MT 934,80 1.046,50 731,30 1.005,90 921,70 880,5 1.011,3 1.290,2 1.815,8 1.809,2
MS 89,2 84,6 68,1 63,3 55,3 48,3 49,1 56,1 67,7 61,0
GO 162,5 128,7 70,3 83,0 52,2 35,1 41,9 53,3 68,5 66,7
Sudeste 74,0 66,6 34,6 39,0 31,7 32,3 26,4 48,1 83,7 80,2
MG 45,4 41,8 26,3 28,3 27,1 26,8 22,7 39,7 67,5 62,3
SP 28,6 24,8 8,3 10,7 4,6 5,5 3,7 8,4 16,2 17,9
Sul 1,2 0,8 0,8 0,8 0,7 0,7 - - 0,8 1,2
Brasil 1.959,8 1.877,3 1.310,3 1.734,0 1.562,8 1.289,2 1.529,5 2.005,8 2.725,9 2.726,9
Variação % ao ano
Nordeste - (21,5) (26,5) 34,4 (8,5) (42,1) 37,8 39,8 21,6 2,8
Centro-Oeste - 6,1 (31,0) 32,5 (10,7) (6,3) 14,4 27,0 39,5 (0,8)
Brasil - (4,2) (30,2) 32,3 (9,9) (17,5) 18,6 31,1 35,9 0,04

Fonte: Companhia Nacional de Abastecimento – Conab (2019).

*Estimativa, em dezembro/19.

O Centro-Oeste é a maior produtor, com previsão de 1,93 milhão de toneladas para a atual safra (2019/2020) (-0,8%). Em seguida, está o Nordeste, com 683,2 mil toneladas (+2,8%). Em terceiro lugar, o Sudeste, com 80,2 mil toneladas (-4,2%); em seguida, o Norte, com 25,4 mil toneladas (+1,6%). O Sul voltou a produzir algodão, com previsão de 1,2 mil toneladas. No Nordeste, a previsão de aumento de área é de 5,5%, elevando-se de 377,8 mil ha na safra anterior para 398,7 mil toneladas na atual. Bahia e Piauí terão aumento de área, principalmente em propriedades já envolvidas com a cotonicultura. Entre os estados, Mato Grosso é o maior produtor (previsão de 1,81 milhão de toneladas para a atual safra), seguido pela Bahia (608,4 mil toneladas). Em seguida, Goiás (66,7 mil toneladas), Minas Gerais (62,3 mil toneladas), Mato Grosso do Sul (61 mil toneladas) e Maranhão (43 mil toneladas). Só a previsão de produção do Mato Grosso é 2,6 vezes a previsão nordestina; nos últimos dez anos, a produção desse estado aumentou 193%, sobre uma base representativa, enquanto a do Nordeste praticamente estacionou.

Comércio exterior

Até novembro de 2019, o Brasil exportou para 171 países 1,38 milhão de toneladas, faturamento US$ 2,43 bilhões. Tanto em volume quanto em valor, as exportações de 2017 ao presente, cresceram acima de 15%, enquanto as importações tiveram movimento oposto, reduzindo-se em 39% e 23%, em volume e valor, respectivamente.

O Nordeste aumentou as exportações, tanto em volume quanto em valor, em percentuais semelhantes aos nacionais. As boas condições climáticas nesses anos, o conflito comercial entre EUA e China e o dólar em alta ajudaram, que teve também redução das importações, também tanto em volume quanto em valor.

O número de países para os quais a Região exportou algodão, no período, subiu de 74 para 84, e, dos países de quem o Nordeste importou, subiu de 32 para 37. Os maiores exportadores brasileiros são também os dois maiores produtores, Mato Grosso e Bahia (Tabela 2). Os maiores importadores são os estados com maior concentração no parque fabril têxtil, São Paulo e Santa Catarina. No Nordeste, Bahia, Parnaíba e Piauí aumentaram substancialmente suas vendas em volume e faturamento, dada a qualidade do produto e a boa conjuntura externa, que também melhorou o preço interno da pluma. O principal destino das exportações do Brasil é o continente asiático, mais de 85%, em 2018, indo na mesma magnitude em 2019, com destaque para a China.

Segundo dados do USDA (2019), a produção de algodão em 2020 deve subir 2,6%, mais que o consumo, que deve subir 1%. No entanto, esse aumento na produção ainda é insuficiente para compensar o aumento do consumo, que, nos últimos sete anos, elevou-se em 10,4%, enquanto a produção em apenas 1,3%. Em relação aos principais atores do comércio mundial, as exportações brasileiras têm evoluído muito bem e a China continua a reduzir seus estoques, em 48%, no mesmo período.

Tabela 2 - Desempenho dos Estados do Brasil nas exportações de algodão

Fluxo/UF* 2017 2018 2019**
Kg líquido FOB (US$) Kg líquido FOB (US$) Kg líquido FOB (US$)
Exportação 886.475.516 1.634.475.362,00 1.026.251.925 1.950.320.186,00 1.384.373.136 2.431.112.481,00
Mato Grosso 546.743.054 890.276.764,00 578.674.021 991.640.956,00 798.236.987 1.323.430.512,00
Bahia 191.370.579 304.030.813,00 218.557.217 377.581.414,00 304.925.033 484.130.052,00
São Paulo 20.475.696 61.753.196,00 48.255.443 105.983.024,00 100.232.802 179.953.178,00
Minas Gerais 9.575.863 52.670.370,00 52.247.056 120.252.019,00 44.782.926 103.606.343,00
Goiás 47.633.406 67.890.961,00 44.520.725 74.926.373,00 54.483.481 84.801.253,00
Santa Catarina 7.881.104 93.348.830,00 8.869.487 85.739.980,00 11.387.680 84.194.852,00
Maranhão 30.930.010 51.461.355,00 31.132.249 54.458.613,00 22.407.797 37.387.549,00
Mato Grosso do Sul 14.426.509 24.564.599,00 22.165.635 39.874.507,00 21.191.211 35.594.931,00
Ceará 7.636.205 36.566.250,00 6.945.244 34.449.632,00 9.257.309 34.638.053,00
Rio Grande do Norte 4.278.497 25.439.311,00 5.179.981 31.663.404,00 4.164.049 24.632.879,00
Paraná 1.339.839 8.499.138,00 3.495.582 12.041.098,00 2.550.620 11.260.310,00
Paraíba 1.165.084 4.010.014,00 2.218.195 7.902.990,00 3.116.951 10.498.788,00
Piauí 1.208.175 2.078.955,00 2.252.281 3.863.658,00 4.688.535 7.366.947,00
Rio Grande do Sul 403.459 3.384.344,00 269.934 2.984.189,00 305.622 3.055.554,00
Tocantins 206.484 343.231,00 902.561 1.693.433,00 1.531.722 2.548.137,00
Rio de Janeiro 55.156 2.417.991,00 30.943 1.740.492,00 23.290 1.656.692,00
Rondônia 1.749 87.849,00 268 3.175,00 999.788 1.647.284,00
Espírito Santo 308.197 833.803,00 11.972 386.318,00 12.923 322.416,00
Sergipe 79.544 638.253,00 7.055 44.001,00 70.028 262.087,00
Amazonas 2.256 117.665,00 3.250 227.960,00 1.113 76.165,00
Distrito Federal 403 3.478,00 269 221.257,00 66 19.345,00
Pernambuco 442 46.285,00 947 57.299,00 979 15.615,00
Alagoas     303 514,00 1.232 6.307,00
Pará 9 446,00 33 729,00 733 4.738,00
Amapá         55 1.489,00
Roraima 88.207 209.050,00 32 250,00 204 1.005,00

Fonte: Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) (2019).

*NCM: 52010010 (Algodão não cardado nem penteado, não debulhado); 52010020 (Algodão não cardado nem penteado, simplesmente debulhado); 52010090 (Outros tipos de algodão não cardado nem penteado).

**Janeiro até novembro.

Preços

O algodão é uma importante commodity de exportação brasileira e tem como referências de preço internacional os índices Cotton Outlook A e o da bolsa de Nova York, e de preço nacional, o índice Esalq-Usp e o preço mínimo fixado pelo Governo Federal. Os preços internos são diretamente afetados pela demanda de algodão para exportação e pela qualidade do algodão comercializado; a demanda interna geralmente não tem problemas para ser suprida. Os preços internos do algodão em pluma fecharam novembro com tendência de alta em relação a outubro, conforme demonstrado na Figura 1.

Figura 1 – Evolução dos preços internos do algodão, em praças selecionadas, 2015-2019.

Fonte: CMA - Consultoria, Métodos, Assessoria e Mercantil S.A. (2019).

Em algumas das principais praças da cotonicultura, com grande percentagem da safra 2018/2019 e 2019/2020 vendida e um menor volume de pluma de boa qualidade no mercado à vista, com os compradores (indústrias e comércio) tendo dificuldades de encontrar a pluma dentro das características desejadas. Nos dois últimos anos, há uma tendência geral de crescimento dos preços da arroba, influenciada pela oferta de pluma e pela quantidade demandada pelo mercado.

Valor Contratado

Nos últimos seis anos, o BNB financiou R$ 2,72 bilhões para o algodão no Nordeste, em 500 operações de crédito, média de R$ 5,44 milhões. Bahia, o maior produtor, recebeu também mais recursos: foram contratados R$ 2,4 bilhões, em 467 operações, 88% do total da Região. O volume financiado é proporcional à produção, que supera, tanto no Cerrado quanto no Semiárido, com grande diferença, a produção dos demais estados nordestinos.

Outros estados que se destacam em relação aos demais da Região são Maranhão e Piauí, que receberam, respectivamente, R$ 147,3 milhões (5,4% do total) e R$ 167,6 milhões (6,1%), no período 2014-2019. Depois da Bahia, são o segundo e terceiro maiores produtores regionais.

A sub-região fora do semiárido foi a que mais concentrou investimentos em cotonicultura do BNB no período considerado. Foram aplicados R$ 2,5 bilhões, distribuídos em 405 operações, correspondendo a 92,1% dos recursos no período e obedecendo à lógica da produção da atividade, que se concentra nos cerrados nordestinos. R$ 215 milhões foram investidos na cotonicultura do Semiárido, em 95 operações de crédito. Quanto ao porte do cliente, 46% do total financiado foi aos médios produtores (R$ 1,25 bilhão), distribuídos em 213 operações (Tabela 3). Os grandes produtores vêm logo a seguir, com R$ 1,07 bilhão, em 51 operações (39,5%). O algodão é uma cultura de alto custo, bancada em larga escala por grandes investimentos, pois exige insumos importados, maquinário específico e muitos cuidados no manejo. Os portes mini, pequeno e pequeno-médio somam 14,6% de participação no total financiado pelo BNB no período, ou R$ 397,7 milhões. A participação dos médios produtores nos financiamentos ultrapassou a dos grandes em 2016, mantendo-se maior deste então.

Tabela 3 - Cotonicultura – Valor contratado por porte entre 2014 e 2019, em mil R$

Ano 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020
Porte Valor  Op Valor Op Valor Op Valor Op Valor Op Valor Op Valor Op
Grande 354.902 13 305.591 11 173.915 9 127.505 6 82.531 8 29.883 3 1.074.327 51
Médio 262.744 22 232.002 33 184.612 26 147.608 34 230.643 58 192.650 40 1.250.258 213
Mini 276 7 148 5 17 1 17 1 62 6 64 10 584 30
Pequeno 6.860 8 6.370 10 4.065 5 1.893 2 2.679 3 1.240 1 23.106 29
Pequeno-Médio 90.702 39 77.455 34 52.593 24 65.118 31 59.640 35 28.497 13 374.005 176
Total 715.484 90 621.566 93 415.201 65 342.141 74 375.554 111 252.334 67 2.722.280 500

Fonte: Banco do Nordeste (2019)

Tendências

As perspectivas da cotonicultura continuam promissoras: pelo lado da demanda, com a elevação da renda e da população (principalmente a asiática), e com a tendência mundial de aumento do consumo de produtos naturais – vide a preocupação em reduzir o uso de materiais plásticos não biodegradáveis - e o algodão, como fibra natural, tem possibilidade de reconquistar um mercado que estava perdido para as fibras sintéticas. Pelo lado da oferta, o País dispõe de terra e tecnologia para atender ao aumento do consumo mundial, com fibra de qualidade, avanços nos métodos para controle de pragas e doenças, obtenção de variedades mais produtivas, desenvolvimento de sistemas eficientes de produção e cadeia produtiva organizada, que se constituem em fatores decisivos para conquista dos mercados interno e externo.

Durante 2019, o Brasil ultrapassou a Índia e se tornou o segundo maior exportador de algodão do mundo, mas esse fato positivo pode esbarrar na questão da logística, ainda deficiente no País. O porto de Santos, apesar de muito distante dos principais centros produtores de algodão de Mato Grosso e Bahia, é o principal porto da América Latina e maior destino portuário do algodão brasileiro, por onde passaram 96% das exportações da fibra em 2019. No entanto, a falta de infraestrutura deste porto está causando atrasos de uma e até duas semanas no embarque da carga. Ele recebe de dois a três mil contêineres de algodão por semana, no avanço da safra, mas alguns contratos de embarque, especialmente chineses, estão sendo postergados, o que acaba impactando o produtor brasileiro.

A cadeia produtiva já se articula no sentido de conseguir rotas alternativas para o escoamento da produção, como a que liga o Oeste Baiano a Salvador, e as quatro grandes companhias de commodities agrícolas do mundo (Archer Daniels Midland (ADM), Bunge, Cargill, Louis Dreyfus), mais uma brasileira (Amaggi), também buscam alternativas, no sentido de se tornarem operadoras da BR 163 (que vai do município de Tenente Portela-RS a SantarémPA), no trecho da rodovia que liga o cinturão de grãos do País aos portos do chamado Arco Norte, ao mesmo tempo que consideram investir em uma ferrovia a ser construída na região, a Ferrogrão, que seguiria uma rota similar à BR 163. A proposta considera investimento de capital próprio pelas companhias de grãos, tanto no projeto da rodovia quanto no da ferrovia, embora a concorrência possa atrair outros investidores. O estado precário desta rodovia, devido também às chuvas pesadas, em março deste ano, deixou os portos do Pará quase sem soja para exportar.

Outro desafio para a cotonicultura nacional continuar na vice-liderança das exportações é a manutenção da qualidade da fibra, produzida competitivamente e com ganhos de produtividade crescente ao longo dos últimos vinte anos. Entre os grandes exportadores mundiais, o Brasil é talvez o único que possa expandir sua produção via aumento de área plantada, além do aumento de produtividade. Essa preocupação com a qualidade é relevante, principalmente tendo-se em conta que o setor exportador ainda não tem ideia clara da consequência, nas exportações, de eventual encerramento do conflito comercial entre EUA e China, que parece mais próximo com os últimos acordos feitos entre as partes. De qualquer forma, a recuperação recente da cotonicultura, após a quebra de safra de 2015/2016 e com o enfrentamento das dificuldades logísticas históricas, comprova seu potencial e a coloca como uma das atividades mais competitivas do Agronegócio brasileiro.

Fonte: Caderno Setorial Etene

Publicado originalmente em 10/02/2020.