Com apoio do Banco do Nordeste, projeto de reuso de água cria quintais produtivos no agreste alagoano
Com apoio do Banco do Nordeste, projeto de reuso de água cria quintais produtivos no agreste alagoano

A partir da implantação de um sistema de reutilização de águas provenientes do uso doméstico, as chamadas águas cinzas, um projeto da Associação dos Agricultores Alternativos (AAGRA) está beneficiando diversas famílias de agricultores no agreste alagoano. A iniciativa, que recebeu apoio do Banco do Nordeste, por meio do Fundo de Desenvolvimento Econômico, Científico, Tecnológico e de Inovação (Fundeci), utiliza a ferramenta Bioágua Familiar, que consegue o reaproveitamento dessas águas para a irrigação de quintais agroflorestais, nos municípios de Igaci, Estrela de Alagoas e Palmeira dos Índios.
Pelo sistema, cerca de 300 litros de água por dia são reaproveitadas para irrigação, em cada empreendimento rural contemplado. O projeto “Promoção e educação no reuso das águas residuais nos sistemas agroalimentares no agreste alagoano” foi um dos selecionados no edital do Fundeci de 2023 e recebeu os recursos para sua implantação. “Todos os anos, o Banco do Nordeste lança editais do Fundeci com foco em temas específicos que promovam o desenvolvimento, adaptação ou aperfeiçoamento de produtos e processos que beneficiem o setor produtivo da região. O apoio se dá por meio da concessão de recursos não reembolsáveis”, esclarece o gerente de Desenvolvimento Territorial do BNB em Alagoas, Manoel Roberto Muniz.
Saneamento Rural
De acordo com o engenheiro agrônomo e coordenador geral do projeto de reuso de águas, Fabiano Leite, as atividades têm o objetivo de mitigar os efeitos das mudanças climáticas e suprir as demandas de oferta alimentar daquele território. Fabiano afirma que o saneamento rural é uma necessidade emergente e que o projeto busca se tornar referência para políticas públicas territoriais e estaduais.
“Por ser de baixo custo, a tecnologia que estamos implantando pode ser amplamente difundida, contribuindo para a universalização do saneamento rural. Além disso, o reuso das águas viabiliza a transformação de áreas desocupadas em quintais produtivos, ao mesmo tempo em que incentiva a agroecologia e a promoção da educação no campo”, explica o coordenador.
Parceria
A verba adquirida com o Fundeci foi destinada exclusivamente à implementação das tecnologias que integram o sistema de Bioágua Familiar nos municípios de abrangência. Na visão do gerente do projeto, o recurso disponibilizado pelo BNB é capaz de ampliar as ações e beneficiar mais famílias de agricultores. Fabiano destaca a importância do investimento para a melhoria da qualidade de vida da população campestre e para a expansão do projeto.
“Acredito que as unidades instaladas podem ser referência para a aplicação da tecnologia em outras localidades. É um passo importante para mostrar que é possível investir, com recursos não reembolsáveis, em projetos que promovam o desenvolvimento social, econômico, ambiental e produtivo no meio rural. Esperamos que novos editais tragam ainda mais recursos para expandir essa rede”, ressalta.
Bioágua Familiar
O engenheiro agrônomo explica que o sistema de Bioágua Familiar implantado pela AAGRA é um modelo individual de tratamento e reuso das águas cinzas, provenientes de pias, chuveiros, lavanderias e máquinas de lavar. No processo de tratamento, a água captada passa por um filtro biológico e, em seguida, é direcionada para um reservatório com capacidade de até 1,5 mil litros. Armazenada, a água é bombeada para um sistema fechado de irrigação, integrado a um quintal agroflorestal, com área média entre 200 e 300 m² por família.
O projeto também tem promovido ações de formação e organização social, que incluem atividades de orientação a respeito do saneamento rural, conscientização sobre doenças veiculadas pela água, bem como o tratamento e o reuso das águas cinzas na agricultura. “Trabalhamos a organização social das famílias, a gestão da tecnologia desde a implantação até a manutenção e a continuidade, sempre com foco no caráter produtivo”, reforça Fabiano.
Segundo o engenheiro agrônomo, como resultado, é esperado que as atividades fortaleçam o caráter produtivo dos agricultores familiares, com a criação de redes de saneamento rural que estimulem a cooperação comunitária, bem como promovam uma educação contextualizada mediante uma formação continuada dos produtores.