Agroinforma

Voltar Agropecuária: Fruticultura

(Extraído de artigo do Caderno Setorial ETENE. O Artigo completo pode ser acessado neste link

1 Cenário Global

A fruticultura comercial exige cada vez mais profissionalismo, pois o acesso aos mercados depende de um arcabouço de regulamentos dos países que importam os produtos, o que pode resultar em barreiras não tarifárias. Como exemplo, pode ser citado o entendimento da União Europeia (UE) sobre Limite Máximo de Resíduos (LMR) de agrotóxicos em frutas que tem se afastado do padrão internacional estabelecido pelo Codex Alimentarius. Bloco europeu restringiu o uso e alterou o LMR de clotianidina e tiametoxam para proteger polinizadores, incluindo abelhas; a medida deve ser aplicada a partir de março de 2026. 

O Brasil, apesar de ser o terceiro maior produtor mundial de frutas, detém um pequeno percentual da produção (4,4%) e do mercado global, menos de 1,0% do valor das exportações. 

2  Produção Brasileira

o Brasil é um dos maiores produtores de frutas do mundo, mas tem uma pequena participação no mercado. A fruticultura é importante para gerar emprego e renda diretos e indiretos no segmento patronal e na agricultura familiar.  

As maiores áreas cultivadas com fruticultura no Brasil estão no Nordeste, aproximadamente 52,4%, seguido pelo Sudeste onde estão quase 26% da área implantada no País, destacando-se na produção de citros. Os cultivos de cacau, laranja, banana, caju e coco ocupam as maiores áreas com fruticultura no Brasil, sendo que cacau, caju e coco se concentram no Nordeste. 

Algumas frutas possuem especial importância para os Estados onde são produzidas, dentre as quais vale ressaltar:

• O abacaxi, responsável por 50% do valor da produção da fruticultura da Paraíba em 2021; o Estado se destaca pela elevada qualidade do fruto, tendo sido responsável, nesse ano, por aproximadamente 17% da produção nacional da fruta;

• O melão, que representou, em 2021, 27% do valor da produção de frutas do Rio Grande do Norte;

• A uva, em Pernambuco, com 50,3% do valor da produção do setor no Estado;

• A laranja, em Sergipe, que respondeu por 46,3% do valor da produção da fruticultura sergipana em 2021.

As frutas de maior valor de produção (VP) no Brasil são a laranja com destaque para o Estado de São Paulo, a banana que é cultivada em todo o País, a uva em Pernambuco e Rio Grande do Sul e o cacau no Pará e Bahia. A fruticultura na área de atuação do BNB está concentrada no Ceará, Rio Grande do Norte, Pernambuco e Bahia, mas todos os estados da região têm potencial para expandir a produção de frutas. a região Nordeste do Brasil teve uma receita total de exportação de frutas de USD 793,0 milhões e uma despesa total de importação de frutas de USD 47,4 milhões.  

Os estados do Piauí e do Maranhão têm alta disponibilidade de água para irrigação. As principais frutas produzidas na região Nordeste são melão, limão, manga, uva, castanha de caju e melancia. A maior parte da produção nordestina de frutas é consumida no mercado interno, mas algumas frutas, como melão, limão, manga, uva, castanha de caju e melancia, têm uma porcentagem significativa de sua produção exportada.

 

 

3 Comercialização

A maioria dos fruticultores do Nordeste é de pequeno porte e depende das condições de mercado. Assim, grande parte da produção de frutas é vendida para intermediários, que distribuem os produtos para agroindústrias, redes atacadistas e varejistas. Os intermediários desempenham um papel importante ao viabilizar o escoamento da produção, especialmente para os pequenos produtores. No entanto, existem frequentes conflitos entre os produtores e os intermediários, envolvendo questões como formação de preços, formas de pagamento e exigências de fidelização. 

A comercialização de frutas diretamente para agroindústrias é baixa na área de atuação do BNB (Banco do Nordeste), e o consumo de frutas in natura é predominante no mercado interno. As principais agroindústrias no Nordeste estão envolvidas no beneficiamento de castanha de caju, produção de sucos de caju, abacaxi, maracujá e laranja, produção de polpas de frutas e atividades de packing house (empacotamento), especialmente para manga, uva de mesa, limão, melão, melancia e banana. Além disso, destacam-se a fabricação de vinhos no Vale do São Francisco, o processamento de coco em Alagoas, Ceará e Paraíba, e o beneficiamento de cacau na Bahia. A maior parte da produção de frutas nordestina é consumida no mercado interno. No entanto, algumas frutas, como melão, limão, manga, uva, castanha de caju e melancia, têm um percentual significativo de sua produção exportado. As exportações de frutas da região nordeste enfrentam diversos desafios, como barreiras comerciais e fitossanitárias, falta de padronização e certificação dos produtos, falta de conhecimento dos produtores em relação à exportação, concorrência com outros países e carência de infraestrutura, incluindo a insuficiência de “packing houses”.O comércio internacional de frutas frescas é dominado por grandes empresas de comercialização (trading companies) que possuem estruturas eficientes de pós-colheita, armazenagem e distribuição, além de amplo conhecimento e poder de mercado. Por outro lado, o mercado interno é extenso e menos exigente, o que desmotiva os pequenos e médios produtores a exportar. 

 

A queda nas exportações de castanha de caju, uva e manga para a União Europeia e Estados Unidos em 2022 está relacionada à escalada da inflação, principalmente de alimentos e energia, causada pela guerra na Ucrânia e pelo cenário turbulento na China. Esses fatores afetaram o envio de frutas para países do Leste Europeu, resultando em uma redução significativa nas exportações nordestinas para essa região. A União Europeia é o maior importador de frutas frescas do Brasil; em 2022, o Bloco recebeu 55,4% do volume exportado pelo Brasil e 64,9% pelo Nordeste. A Holanda (Países Baixos) é o principal destino das exportações da fruticultura nordestina. Em 2022, este País recebeu 36,1% do volume total exportado de melão, 47,6 % da manga, 36,7% da uva, 48,5% da melancia e 78,4% de limões e limas . O porto de Rotterdam é o principal complexo de cargas da Europa, funcionando como um polo de distribuição de mercadorias, pois sua área de influência abrange diversos países europeus como a Bélgica, Luxemburgo, França (Leste), Alemanha, Suíça, Áustria e Itália (Norte). O Reino Unido, por sua vez, recebeu em 2022, expressivo percentual das exportações nordestinas de melão (27,3%), uva (25,7%) e melancia (41,6%); a Espanha é o terceiro destino mais importante para frutas frescas do Nordeste; em 2022, recebeu 25,1% e 15,8% do volume exportado de melão e manga, nessa ordem. Já os Estados Unidos são o principal importador de castanha de caju do Nordeste (31,3%), sendo também importante destino para a manga (18,2%) e uva (18,8%).

O setor produtor de frutas brasileiro está buscando novos mercados, e em 2019, o Brasil firmou um acordo bilateral com a China para exportar melão. A China possui um mercado consumidor vasto e há potencial de crescimento para a fruta brasileira, uma vez que a safra brasileira coincide com a entressafra chinesa. No entanto, em 2021 e 2022, obstáculos logísticos devido à pandemia dificultaram os envios de melão para a China. Quanto às importações de frutas, a região nordeste tem um dispêndio relativamente baixo. Em 2021, foram gastos US$ 47,4 milhões com importações, enquanto o faturamento com exportações de frutas foi de US$ 793,0 milhões no mesmo período. As principais frutas importadas são pera, uva e maçã. 

4 Tendências e Perspectivas

As perspectivas para o mercado internacional de frutas em 2023 não são favoráveis devido às dificuldades econômicas enfrentadas por importantes mercados, como os EUA e a UE. A inflação de alimentos aumentou devido à guerra na Ucrânia, reduzindo a demanda por frutas. Além disso, os altos preços dos combustíveis elevaram os custos de frete. A incerteza está relacionada ao aumento das taxas de juros e à duração das políticas monetárias restritivas. 

A venda online de frutas e hortaliças frescas é uma tendência forte devido à crescente conectividade dos consumidores. Com o crescimento e consolidação do home office, espera-se que o hábito de fazer refeições em casa se mantenha. Os consumidores preferem frutas e hortaliças acessíveis e de fácil preparo. 

Os consumidores, especialmente nos países desenvolvidos, buscam alimentos práticos e em porções pequenas devido à falta de tempo e ao aumento de pessoas vivendo sozinhas. Existe uma demanda crescente por alimentos minimamente processados, rápidos, saudáveis e de alta qualidade, representando um nicho importante para a fruticultura. Logo há um aumento nas exigências de redução de resíduos nos alimentos, impulsionando o uso de produtos biológicos pelos fruticultores brasileiros. 

Autor: VIDAL, Maria de Fátima, Engenheira Agrônoma. Mestre em Economia Rural.

Fonte: Caderno Setorial Etene