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Voltar Agropecuária: Mel natural

(Extraído de artigo do Caderno Setorial ETENE. O Artigo completo pode ser acessado neste link

1 Cenário Mundial Para Produção De Mel

Em 2021, a produção mundial de mel foi aproximadamente 1,8 milhão de toneladas, a China é o maior produtor global tendo produzido 472,7 mil toneladas (26,7%), sendo também grande exportador com 145,8 mil toneladas (18,5%). O mel chinês é um dos mais baratos no mercado mundial, o baixo custo de produção o faz um dos mais competitivos, no mercado global de mel. Ademais, em 2021, o surto de Coronavírus na China não resultou na queda da produção, mas de alta de 3,2% em relação a 2020. As exportações chinesas também cresceram em 2021, em 10,1%. Nesse ano, o País vendeu seu mel com preços inferiores ao preço médio mundial, porém pagou caro pelo mel importado, indicando que o mercado chinês demanda produto de maior valor agregado (FAO, 2023)1. Já a União Europeia, que além de grande consumidora, responde pela segunda maior produção com 215 mil toneladas (12,1%) de mel no mundo. O Bloco possui um programa de apoio para o setor apícola com o objetivo de incentivar a produção, a comercialização e a melhoria da qualidade do mel, além de apoiar as pesquisas e o combate as pragas (DECISÃO DE EXECUÇÃO (UE) 2019/974). Contudo, a produção europeia de mel não é suficiente para atender a demanda interna, o país consume 1,62 vezes mais do que produz; o mercado europeu corresponde a US$ 1,3 bilhão em importações, seguido pelos blocos da América do Norte (US$ 704,4 milhões) e da Ásia (US$ 607,3 milhões).

2 Cenário Brasileiro para Produção de Mel

Os apicultores brasileiros são predominantemente de pequeno porte, sendo a apicultura uma atividade de elevada importância social; dados do Censo Agropecuário de 2017 (IBGE, 2023)2 mostram que 22.734 (94,14%) estabelecimentos com apicultura no Nordeste brasileiro estão no Semiárido, mais especificamente nos estados do Piauí, Bahia e Ceará, onde são poucas as opções de atividades produtivas rentáveis no meio rural devido às limitações socioeconômica e edafoclimática da Região, em especial escassez de água. São 101.797 propriedades com apicultura no Brasil e 24.150 (23,72%) no Nordeste, sendo que 83.384 (81,91%) no Brasil e 19.538 (80,90%) no Nordeste são da agricultura familiar.

Em 2021, foram produzidas no Brasil 55,83 mil toneladas de mel, alta de 6,4% em relação a 2020. Estima-se que a produção em 2022 tenha alcançado 60,72 mil toneladas. Na série de análise, 20172021, a região Nordeste foi a que mais cresceu (12,2% a.a.) dentre as demais, segunda maior produtora (20,3 mil toneladas), após a Sul (22,2 mil toneladas). A tendência é que o Nordeste lidere a produção de mel do País em 2023, considerando a trajetória de crescimento e as boas condições climáticas de 2022 para o Nordeste e desfavoráveis ao Centro-Sul devido os efeitos do La niña. O maior volume de chuvas ocorrido nos últimos anos na Região resultou em melhores floradas, e por consequência, maior produção de mel. Considerando toda a área de atuação do BNB, o volume total de mel em 2021 foi de 22,27 mil toneladas, aumento de 5,48% em comparação com 2020. Destaca-se o crescimento anual de 10,93% de 2017 a 2021, que pode resultar na produção de 25,20 mil toneladas e faturamento de R$ 389,90 milhões em 2022. O Piauí é o maior produtor regional de mel com 6,88 mil toneladas, foi o que mais rápido se recuperou da seca ocorrida em 2012, com crescimento da produção em 11,78% a.a. e previsão de 7,69 mil toneladas para 2022. Destaca-se o Ceará, que tem aumentado a produção na taxa de 20,65% a.a., terceiro maior produtor logo após a Bahia (7,78% a.a.), neste ritmo, estima-se que o Ceará alcance 4,53 mil toneladas em 2023, e a Bahia com 4,96 mil toneladas. Vale ressaltar que o Norte de Minas Gerais é importante produtor na área de atuação do BNB, com alta de 14,29% entre 2020 e 2021, onde os produtores têm recebido apoio institucional por meio de assistência técnica, e se organizaram em associações e cooperativas.

2.1 A cadeia nordestina do mel

No Ceará, muitos apicultores comercializam sua produção para intermediários devido à inexistência de uma estrutura mais sólida de organização a exemplo de associações e cooperativas que possa coordenar o elo distributivo da produção. Já no Piauí e na Bahia, grande número de apicultores repassa sua produção para as cooperativas a que estão vinculados e estas a encaminham à cooperativa central, que, por sua vez, vende a produção para empresas exportadoras. No Piauí, a própria Casa Apis (Central de Cooperativas) exporta a produção. O Norte de Minas Gerais conta com dois entrepostos habilitados a exportar mel, um em Janaúba e outro em Bocaiúva. Em 2022, o mel do Norte de Minas recebeu Registro de Indicação Geográfica (IG), na categoria denominação de origem (Mel de Aroeira do Norte de Minas). Estudos indicaram características terapêuticas no mel produzido na Região a partir da aroeira (Myracrodruon urundeuva Allemão e de honeydew3), antes considerado de baixo valor comercial por ser escuro. O registro de IG agrega valor ao produto, pois este passa a ser reconhecido no mercado como produto de qualidade.

2.2 Mercado externo.

O Brasil é reconhecidamente fornecedor de mel orgânico, o que naturalmente agregaria mais valor ao produto. Entretanto, o entendimento dos atores que trabalham na cadeia do mel é de que a queda do preço do produto entre 2019/2020 foi causada pelo crescimento da concorrência com outros países que passaram a exportar maior volume de mel orgânico, pois a forte valorização do produto brasileiro no mercado externo entre 2011 e 2017 levou insegurança aos importadores e reação do mercado com o crescimento da concorrência. A partir de 2020, as exportações brasileiras de mel voltaram a crescer tanto em termos de volume quanto de valor. Contribuíram para este resultado, o aumento da oferta do Nordeste, o dólar valorizado e a maior demanda por alimentos considerados benéficos para a saúde diante da pandemia da Covid-19. Entre 2021 e 2022, houve recuo do volume das exportações nordestinas de mel (-1,50%), especialmente no Piauí (-5,24%) e no Ceará (-11,53%), quase que totalmente compensada pelo bom desempenho do Maranhão e da Bahia, que aumentaram significativamente suas exportações 36,73% e 95,02%, respectivamente. Entretanto, o câmbio favorável resultou em aumento de 2,39% no faturamento. Em 2022, o Piauí exportou 70,35% do volume total de mel da Região e 30,74% do País. Destaca-se que em relação de 2019, pré-pandemia, o desempenho do Nordeste foi extraordinário, com variações de 287,46% (US$) e 143,34% (Kg).  

A apicultura do Brasil tem muito mais a oferecer em benefícios à sociedade do que renda do mel, trabalho e polinização. A atividade traz consigo inúmeros produtos de valor agregado, como a cera, a própolis e o veneno em pó (apitoxina) como matéria-prima para as indústrias de processamento, a exemplo de cosméticos e de farmoquímicos. Os principais destinos do mel nordestino são países de consumo elevado, em comparação com o Brasil, e todos os estados concentram fortemente as exportações nos Estados Unidos, em 2022 foram: Piauí (66,63%), Ceará (89,06%), Maranhão (82,81%) e Bahia (73,27%), de um total de 35 países. As exportações nordestinas de mel foram favorecidas em 2022 pela valorização dólar que resultou em aumento US$ 2,13 milhões no faturamento (3,66%), passando de US$ 58,2 milhões em 2021 para US$ 60,3 milhões em 2022, embora o volume tenha recuado -1,21%, aproximadamente 200 toneladas.

Autores: XIMENES, Luciano Feijão; VIDAL, Maria de Fatima 

Fonte: Caderno Setorial Etene