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Voltar Pecuária: Carne suína

(Extraído de artigo do Caderno Setorial Etene. O Artigo completo pode ser acessado neste link).

A lenta recuperação econômica pós-pandemia, os impactos do conflito Rússia vs Ucrânia, os processos inflacionários e alta de juros nos Estados Unidos e na União Europeia e o fim da política zero da Covid na China, são alguns fatores que influenciam a demanda global, aumentando as incertezas e volatilidade do setor de proteína. No Brasil, os altos juros limitam o acesso ao crédito dos produtores, dirimindo os investimentos. O gerenciamento da inflação continuará sendo importante nas principais economias, com ajustes nas taxas de juros que inspire confiança nos mercados, seja para investidores, empresas ou para o próprio mercado consumidor. Entre as principais questões globais para 2023 está no risco de limitação no comércio global, que provavelmente aumentará modestamente nesse 1T2023, devido principalmente à baixa produção obtida no ano passado, nas principais regiões exportadoras, como a UE e EUA, e que podem dificultar o crescimento da atividade em 2023. A produção global de carne suína para 2023 está prevista em 114,3 milhões de toneladas e espera-se que as importações de carne suína pela China, superem os níveis de 2022, com a demanda mais forte do consumidor. A China, apesar de ser a maior produtora e consumidora mundial de carne suína, tem previsões de produção para 2023 ainda abaixo da demanda de consumo, uma vez que o setor ainda busca se ajustar às rápidas mudanças nas condições do mercado e por isso continuará pressionando os países americanos produtores, como os Estados Unidos e o Brasil, livres da ocorrência de Peste Suína Africana (PSA).

Na análise global para este ano, a oferta mais restrita nos países exportadores (EUA, Canadá e UE) provavelmente limitará o comércio global de carne suína no 1S2023. Porém, a tendência é que o rebanho dos EUA volte a crescer a partir do 2S2023, o que fortalecerá as exportações, deixando a carne suína mais competitiva nos principais mercados. Neste momento, a suinocultura brasileira ainda atravessa grandes desafios, pois os efeitos pós-pandemia ainda trazem complexidade aos mercados doméstico e global, além dos impactos ocasionados pela guerra Rússia x Ucrânia. Estes acontecimentos determinam um ambiente propício à volatilidade dos mercados e especulações. Fato é que os países estão realinhando suas economias. O Brasil, pela sua tradição na suinocultura industrial, deve permanecer com uma fatia de mercado, considerando que toda a produção de carne suína do Brasil (4,43 milhões de toneladas), representa pouco menos de 10% do consumo total da China (55,50 milhões de toneladas), principal destino das exportações da carne suína brasileira. O País, que registrou recordes nas exportações em 2022, deverá aumentar sua produção e as exportações para este ano.

Conjuntura Nacional e Regional

 Exportações

As exportações brasileiras de carne suína totalizaram no período no 1T2023 (270,7 mil toneladas e US$ 640,9 milhões), embarques superiores aos registrados no 1T2022 (232,6 mil toneladas e US$ 491,5 milhões), variações de +30,39 (US$) e 16,4% (volume). Vale mencionar que as exportações brasileiras de carne suína encerraram 2022 com 1,09 milhão de toneladas. Desde 2021, os resultados vêm se superando ano a ano, considerando a série histórica desde 1997. Destaca-se o avanço nos embarques brasileiros para China neste 1T2023, +52,05% (US$) e +25,69% (Kg) em torno de 109,6 mil toneladas. Da mesma forma, os embarques para Hong Kong também cresceram, +33,16% (US$) e +17,68% (kg), em torno de 28,3 mil toneladas

As exportações brasileiras de carne suína, no 1T2023, registraram o melhor desempenho da história para o período. Segundo dados da Secretária de Comércio Exterior (Secex), foram escoadas 271 mil toneladas da carne, 6,5% abaixo do registrado no 4T2022, e 16,4% acima do observado nos 1T2022. Em março/2023, especificamente, foram embarcadas 105,5 mil toneladas de carne suína, significativo avanço mensal de 35,9% e 17,8% superior ao verificado em março/2022. Este volume favoreceu o resultado histórico do 1T2023, cuja receita acumulada também atingiu a melhor marca da história para este período, totalizando US$ 640,9 milhões, 11,3% inferior ao arrecadado no 4T2022, e 30,4% superior ao montante do 4T2021. Ainda em março/2023, a receita subiu expressivos 34,7% em relação a fevereiro/2023, equivalente de US$ 247,2 milhões. Segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), os custos de produção em patamares elevados no mundo e os impactos de questões sanitárias em vários países produtores de carne suína têm impulsionado a demanda externa pela proteína nacional. As nações asiáticas seguem protagonistas entre os destinos das exportações brasileiras de carne suína. A China segue na liderança dentre os principais parceiros comerciais do Brasil. As perspectivas para as exportações de carne suína são otimistas: para este ano, a China deve aumentar suas importações do Brasil, espera-se aumento de demanda das exportações brasileiras voltadas também para outros mercados. Canadá e México autorizaram novas plantas brasileiras de exportação. O México ampliou a abertura do mercado para a carne suína brasileira. A partir de agora, o Brasil poderá exportar o produto in natura, sem necessidade de passar por processamento térmico antes de ser vendido aos consumidores.

Apesar da expectativa de crescimento dos volumes exportados para 2023, motivada pelo aquecimento rápido das principais economias mundiais, como a China, os Estados Unidos e Japão, com a Guerra entre Rússia e Ucrânia, o cenário global é incerto.

 Abate

A suinocultura segue com crescimento de preços e de volume de vendas no mercado doméstico e contando ainda com forte demanda externa, que deverá crescer ainda mais com a perspectiva de compras adicionais da China. Todavia, o panorama interno para a suinocultura continua desafiador, com altos custos de produção e oferta abundante, o que tem afetado o retorno da atividade para os produtores. Os criadores aumentaram os abates para cortar gastos e ajustar a produção aos custos, como forma de estratégia. E por isso, de acordo com o CEPEA (2023), a demanda enfraquecida e a oferta elevada pressionaram os preços do suíno vivo e da carne suína em março. Ainda assim, apesar da retração mensal, os valores do animal e da proteína ficaram acima dos registrados em março de 2022. Com isso, ao final de 2022, no mercado da carne, diante dessa demanda enfraquecida pela carne suína, agentes do setor varejista adotaram a estratégia de redução de preços, com o intuito de elevar a liquidez – pois muitos pretendiam escoar parte dos estoques. Diante desse cenário, a competitividade da carne suína aumentou frente às principais substitutas, uma vez que os valores do frango avançaram e a carcaça bovina apresentou leve baixa.

As relações comerciais externas e a melhor liquidez da carne suína, mais barata para maior parcela da população, têm aquecido a produção doméstica. Na série trimestral, o pico histórico foi no 3T2022, tanto na quantidade de animais (14,47 milhões), como na produção de carne (1,33 milhão de toneladas). Em 2023, entretanto, com a redução no abate observada no 4T2022, segundo colaboradores consultados pelo Cepea, e oferta restrita no mercado interno – que vem sustentando os valores dos animais e da carne em patamares elevados – está atrelada à menor produção de suínos, ocasionada pelos altos patamares dos preços dos principais insumos consumidos na suinocultura (milho e farelo de soja). Esse cenário levou ao abandono da atividade e/ou redução de plantéis por parte de alguns suinocultores que atuam no mercado independente. No caso do Nordeste, houve queda de -2,5% no abate de suínos no 4T2022 em relação ao 3T2022 (166,9 para 162,7 mil cabeças), com recuo na produção de carne de -5,8% (13,71 mil para 12,92 mil toneladas). Ainda assim, o peso ao abate dos animais do Nordeste (5,29 @) obteve menor peso médio que a média nacional (6,11@). Por outro lado, a preferência do consumidor pela carne suína tem crescido na Região, principalmente pela carne resfriada, enquanto os cortes congelados são uma opção secundária, comumente de origem do Centro-Sul do País.

Complementa-se que no Nordeste a evolução da suinocultura industrial, a desmistificação de informações equivocadas sobre a carne suína e a preferência no paladar dos cortes suínos para diferentes pratos, sejam para o dia a dia, nas boutiques de carne ou mesmo nos bares e restaurantes, evidentemente, além do menor preço, são fatores que estão impulsionando a produção local. Em alguns estados da Região, como Maranhão, Piauí e Bahia, a produção mais que triplicou apenas nos três últimos anos, estando fortemente atrelada a facilidade de acesso a forte produção de grãos (MATOPIBA). Os estados mais produtivos seriam Bahia, seguidos de Ceará e Pernambuco, tanto em número de suínos abatidos como no peso das carcaças. No geral, os suinocultores nordestinos têm mostrado não apenas resiliência diante das adversidades, mas aumentaram a capacidade produtiva para atender os mercados, também complexos, tanto o global como o doméstico.

 No mercado doméstico, a queda da atividade econômica, a elevada taxa de desocupação, a pressão inflacionária sobre os insumos e a renda, associada com a perda do poder aquisitivo, determinaram oscilações na demanda por carne suína. Apesar disso, desde janeiro de 2020, a carne suína tem ganhado competitividade em relação à carne bovina. A suinocultura brasileira experimentou altas taxas de inflação em 2022 relacionadas aos custos de produção, especialmente custos com eletricidade, transporte, ração, transporte de animais e outros custos operacionais. Segundo o índice de custos da produção de suínos calculado pela Embrapa, chamado ICPSuínos, houve aumento de 15% nos custos de produção de suínos em 2022, enquanto os custos de ração aumentaram 13%, sendo que as despesas com nutrição representam 80% dos custos totais de produção. As particularidades destas atividades é a dependência de grãos (milho e soja). O sétimo levantamento de safra da Conab (abril, 2023), há previsão de colheita recorde de milho na segunda safra, com estimativa de mais de 95,3 milhões de toneladas (+11%), que somadas à safra verão e à terceira safra, resultariam em um volume total da safra 2022/23 da ordem de quase 124,9 milhões de toneladas (+10,4%). Para a safra de soja, o Brasil deverá colher 153.633 mil toneladas, 22,4% superior a safra 21/22, com produtividade média de 3.527 kg/ha, registrando recordes históricos de área de plantio, produtividade e produção, com destaque para o Matopiba e Mato Grosso, que compensaram com sobras, as perdas registradas no Sul. Com essa maior oferta, há um reflexo na queda no preço do milho e valorização do suíno vivo, trazendo um cenário mais favorável ao produtor.

Apesar disso, em 2022, no mercado nacional, as rentabilidades dos sistemas de produção de suínos foram afetadas negativamente, pois mesmo com a reação dos preços do suíno e queda paulatina do milho e da soja, a relação de troca ainda não permitiu margens financeiras significativas aos suinocultores (Figura 4). De acordo com o CEPEA (2023), a baixa disponibilidade de suínos em peso ideal para abate no 1T2023 impulsionou significativamente os valores do animal vivo em janeiro e fevereiro. Esse cenário, somado às desvalorizações do milho e do farelo de soja, o que favoreceu o poder de compra de produtores frente a esses importantes insumos consumidos na atividade. Segundo a avaliação da Conab (abril 2023), entre janeiro e março de 2023 a nível nacional, o preço da soja teve queda de -9,31% (de 163,14 para 147,95 R$/saca de 60kg) e do milho recuo de -1,84% (de 80,21 para 78,76 R$/saca de 60 kg), nesta ordem, enquanto o preço da carne suína aumentou apenas 2,42% (7,84 para 8,03 R$/kg de suíno vivo), considerando valores nominais pagos ao produtor. A região Nordeste seguiu a mesma tendência de oscilação nos preços, o preço da soja teve queda de -10,23% (de 164,32 para 147,51 R$/saca de 60kg) e do milho, aumento de +0,48% (de 81,87 para 82,27 R$/saca de 60 kg), nesta ordem, enquanto o preço da carne suína recuou -6,06% (9,56 para 8,98 R$/kg de suíno vivo), considerando valores nominais pagos ao produtor.

Não obstante, a queda do poder de consumo da população de menor renda (1 a 5 salários) priorizou as proteínas mais baratas, tanto que as carnes de suínos e de frango mantiveram comportamento estável no mercado interno, como opções à carne bovina. Da mesma forma, vísceras, processados cárneos e ovo de galinha também se tornaram alternativas às carnes, inflacionando o preço pelo aquecimento da demanda sobre estes produtos.

Fonte: Caderno Setorial Etene