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Voltar “DUAS CIDADES”

A cidade é o local onde as pessoas se organizam para conviver em sociedade, possibilitando a troca de produtos, serviços culturais, religiosos e os mais diversos tipos de fluxos e atividades humanas. Embora já conheçamos essa dinâmica, será que já paramos para pensar se realmente conhecemos onde habitamos? Podemos nos surpreender ao tentar responder a essa pergunta do ponto de vista da relação consumo x varejo.

Em um cenário de orçamentos cada vez mais reduzidos, considerando a variável inflação, observar a cidade mais atentamente pode ser um exercício interessante quando se remete à compra de produtos e serviços sob a ótica das classes sociais.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) classifica as classes por renda em salários-mínimos, sendo: A (acima de 20 SM), B (de 10 a 20 SM), C (de 4 a 10 SM), D (de 2 a 4 SM) e E (até 2 SM).

Nessa perspectiva, pode-se pensar em “dois” tipos de cidades dentro dela mesma: bairros mais direcionados às classes A e B e outros, às classes C, D e E.

Em geral, nos bairros mais voltados às classes A e B, percebem-se produtos e serviços com maior margem de lucro, refletindo-se em preços mais elevados.

Por outro lado, quando observamos bairros voltados às classes C, D e E, é possível encontrar preços mais modestos, alinhados com famílias de menor volume de renda.

Para ambos os casos, são geradas inúmeras possibilidades a empreendedores mais atentos.

O cenário de empreendedorismo pode ser bastante rico nos bairros menos badalados. Nesse universo é possível encontrar com certa facilidade farmácias e supermercados de nomes desconhecidos, se comparados às grandes redes nacionais; têm-se shoppings de roupas a preços convidativos, diferentemente das butiques reluzentes com nomenclatura estrangeira de difícil pronúncia em bairros nobres; abrem-se oportunidades a profissionais de excelente qualidade de serviço do ramo moveleiro, um contraponto a lojas bem conceituadas fabricantes de móveis planejados e caros; sorveterias com vendas em grande quantidade a baixo custo; entre outras inúmeras possibilidades de negócios que surgem a cada dia.

Para se ter uma ideia aproximada da disparidade de valores que podem ocorrer, vale a pena citar um exemplo. Em determinada capital brasileira, um morador necessitava instalar telas mosqueteiras em todas as janelas em seu apartamento de 104m². Ciente disso, solicitou orçamento à vista, então uma empresa localizada em área considerada nobre orçou o serviço em R$ 3.182,50. Ele pensou, se fizesse o mesmo por meio de uma empresa localizada em bairro mais distante, o orçamento poderia ser bem diferente. Sua teoria se confirmou, o valor orçado ficou em R$ 1.400,00 tendo a mesma qualidade. Ele ficou boquiaberto! 

Nesse cenário, é importante lembrar, não são apenas preços mais competitivos que podem direcionar as escolhas de consumo para determinadas regiões de cada município. Além da própria renda, as pessoas são influenciadas por fatores, como: qualidade dos produtos e serviços, proximidade de localização, pressão cultural/familiar e, variados fatores.

Grandes grupos comerciais também já visualizaram a oportunidade de amealhar tais clientes das classes C, D e E, entre eles: sites de compra coletiva, canais pagos de televisão, grandes lojas de eletrodomésticos, serviços de transporte por aplicativos, entre outros.

Diante do exposto, é notório que existe um mercado real e gigantesco nas “duas cidades” quando o tema é empreender. Percebendo isso e devido principalmente à necessidade financeira, inúmeros micro e pequenos empresários surgem a cada dia.

Depreende-se que, com o surgimento de novos negócios, conhecer onde habitamos envolve o entendimento por parte do empreendedor do comportamento dos públicos de atendimento, priorizar recursos, aplicar conhecimentos (expertise), a fim de atender a demandas represadas e manter a visão aberta às oportunidades. Criatividade é e será sempre diferencial para melhores resultados!

Por: Riccardo Sales A. F. de Sá

Gerente de Negócios do Banco do Nordeste