Pesquisa brasileira leva pioneirismo, empreendedorismo e inovações para as cadeias nacionais de milho, sorgo e milheto
Agroinforma
Pesquisa brasileira leva pioneirismo, empreendedorismo e inovações para as cadeias nacionais de milho, sorgo e milheto
(Extraído de notícia da Embrapa. A notícia completa pode ser acessada neste link)
Nas últimas décadas, a agropecuária brasileira modernizou-se, ganhando novas funções e tornando-se mais complexa. Ao seu tradicional papel de produção de alimentos, fibras e energia, novos conceitos foram incorporados, levando-se em conta a sustentabilidade dos negócios agrícolas, principalmente nos aspectos ligados à segurança alimentar e nutricional, à agregação de valor, à qualidade de vida das pessoas e à preocupação com o meio ambiente.
Nesse período, a agropecuária tornou-se, também, uma das principais forças motrizes para a produção, a transformação e a ampliação das opções de consumo que impulsionam o mercado brasileiro – notadamente urbano – nos dias atuais. Ao longo das últimas cinco décadas, a produção brasileira de grãos saltou de 38 milhões de toneladas, em 1975, para cerca de 310 milhões de toneladas, em 2023, o que representa um aumento de quase oito vezes em produção de grãos, com um acréscimo de apenas duas vezes na área plantada.
“Esse evidente “efeito poupa-terra” somente foi possível a partir dos incrementos em produtividade, resultantes, principalmente, dos investimentos em pesquisa e inovação para a modernização da agricultura brasileira”, relata a chefe-adjunta de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Milho e Sorgo, Maria Marta Pastina.
A Embrapa Milho e Sorgo, Unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), acompanhou e participou ativamente de todo esse processo de modernização, entregando resultados inovadores de pesquisa, produtos e serviços que contribuíram para o crescimento sustentável das cadeias produtivas de milho, sorgo e milheto no Brasil.
“Pesquisa é futuro”, comenta o chefe-geral Frederico Ozanan Machado Durães. “A percepção dos desafios a serem enfrentados na construção do conhecimento, a qualificação e o posicionamento cooperativo, para impactos nos sistemas intensificados e arranjos, técnico-científicos, institucionais e produtivos, da agropecuária tropical não são tarefas triviais para gestores, cientistas e apoiadores da ciência e de sua aplicação”, complementa Durães.
Ele enfatiza que “compreender, formular e implementar estratégia de ação para o desenvolvimento da agricultura são processos evolutivos na trajetória, no esforço corrente e na perspectiva futura de uma empresa de Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I), como é o caso da Embrapa e de sua rede de Unidades Descentralizadas de Pesquisa, Desenvolvimento & Inovação (PD&I) e de negócios de base tecnológica, como a Embrapa Milho e Sorgo”.
“A Unidade é responsável pela manutenção e exploração racional das espécies de milho, de sorgo e de milheto, e de coleções multifuncionais de microrganismos úteis para o manejo eficiente de características na matriz insumo-produto de qualidade, focando em sistemas intensificados de produção, produtividade e sustentabilidade, notadamente de grãos, proteína animal e áreas afins”, pontua Durães.
Inaugurada em 1976, em Sete Lagoas, MG, a Embrapa Milho e Sorgo deu continuidade a uma história em pesquisa agropecuária realizadas desde 1907 por instituições públicas naquela região.
Segundo a filosofia estabelecida na época de sua implantação, o então Centro Nacional de Pesquisa de Milho e Sorgo coordenaria e executaria pesquisas para o aumento da produtividade, a redução dos custos de produção e a expansão da fronteira agrícola com a incorporação de áreas até então subaproveitadas.
Desde o início, a Embrapa Milho e Sorgo deu ênfase ao desenvolvimento de cultivares mais produtivas e ao melhoramento de híbridos adaptados aos solos ácidos do Cerrado – a nova fronteira agrícola a ser conquistada. A Unidade desenvolveu também sistemas de produção mais lucrativos e apropriados para nossas regiões, com indicação de cultivares, regulagem de máquinas e recomendações para o uso correto de fertilizantes e agroquímicos. Assim, pretendia-se a redução das perdas na colheita e o adequado armazenamento dos grãos. Era um “pacote tecnológico”, visando o aumento imediato na disponibilidade de alimentos.
O jornalista José Heitor Vasconcellos conta que a implantação de Bancos Ativos de Germoplasma (BAG) de Milho, de Sorgo e de Milheto também foi fundamental para a obtenção contínua das cultivares desenvolvidas pela Unidade. Neles são conservados materiais genéticos de diversas partes do mundo e de coletas estratégicas realizadas nas regiões brasileiras.
“Nas décadas de 1970 e 1980, a Embrapa Milho e Sorgo introduziu e melhorou diversas populações de milho tropical, que resultou no desenvolvimento de cultivares com características adequadas para a expansão da cultura para o Cerrado, um bioma antes considerado improdutivo. Essas novas plantas também apresentavam ciclo mais precoce, propiciando maiores produtividades com menor risco em plantios da segunda safra e “escape” da seca em regiões semiáridas”, diz Vasconcellos.
Soluções tecnológicas
Maria Marta Pastina relata que, ao longo da trajetória, do esforço corrente e da visão de futuro da Unidade, a Embrapa Milho e Sorgo tem investido no desenvolvimento de soluções tecnológicas sustentáveis para os reais desafios enfrentados pelo setor produtivo, ampliando oportunidades e mitigando riscos econômicos, sociais e ambientais.
“Na agricultura familiar, por exemplo, o desenvolvimento da plantadeira de tração animal para o plantio consorciado de milho e feijão, em uma única operação, proporcionou um avanço efetivo nesse sistema de plantio. O lançamento da variedade de milho BR 106 deu aos produtores uma cultivar produtiva e competitiva com os materiais disponíveis no mercado”, comenta Vasconcellos.
Ele destaca que o lançamento do primeiro milho de alta qualidade proteica, o BR 451, destinado à alimentação humana e de animais monogástricos, revolucionou a estratégia de marketing até então utilizada, com a distribuição de milhares de pacotes dessas sementes em revistas agrícolas, atingindo tanto o público rural quanto o urbano.
O pioneirismo da Embrapa Milho e Sorgo no desenvolvimento de cultivares adaptadas aos solos ácidos revolucionou o mercado brasileiro de sementes. O híbrido duplo de milho BR 201, por exemplo, abriu o caminho não só para o estabelecimento dessa cultura no Cerrado, mas também para o nascimento de uma “franquia vegetal”, a Embrapa/Unimilho, em que companhias privadas brasileiras produziam e comercializavam as cultivares desenvolvidas pela Empresa pública.
Já nos anos 1990, no Brasil, a produção agrícola encontrou no Centro-Oeste as condições ideais para seu crescimento. A Embrapa Milho e Sorgo continuou a disponibilizar tecnologias apropriadas para todos os níveis de produtores. “Para a agricultura familiar, foi desenvolvida uma beneficiadora/classificadora portátil de sementes de milho, adaptada à pequena propriedade rural”, recorda Vasconcellos.
O pesquisador Paulo Evaristo Guimarães ressalta que “o programa de melhoramento de milho teve grande impulso com a colocação de cultivares para agricultores de todos os segmentos, desde a agricultura empresarial até a feita por pequenos produtores familiares, destacando-se os híbridos BRS 2022, BRS 1055, BRS 1060, BRS 3042 VTPRO2, BRS 3046 (milho-verde), BRS Vivi (milho-doce) e BRS 2107 e as variedades BRS Caimbé, BRS 4103 e BRS 4104 (milho pró-vitamina A), BRS 4105 e BRS 4107”.
Atualmente, são disponibilizadas sementes de híbridos e variedades de milho em parcerias com empresas privadas de forma ainda mais estratégica. As parcerias preconizam o posicionamento de cultivares, de acordo com a adaptação a regiões e épocas de cultivo, considerando características específicas e as vantagens competitivas de cada cultivar.
Barraginhas e lago de múltiplo uso
Entre as soluções tecnológicas destacam-se também as Barraginhas e o Lago de múltiplo uso. As Barraginhas são pequenas bacias escavadas no solo, construídas dispersas nas propriedades com a função de captar enxurradas, controlar as erosões e proporcionar a infiltração da água das chuvas no terreno.
Já o lago de múltiplo uso consiste em uma alternativa para armazenamento superficial de água nas propriedades rurais, para utilização da água disponível na propriedade para diversas finalidades.
Sorgo e milheto
A Embrapa Milho e Sorgo tem trabalhado no desenvolvimento de sistemas de produção e de genética de alta performance para os cinco diferentes tipos de sorgo (granífero, forrageiro/silageiro, biomassa, sacarino e vassoura), e também para milheto, com foco em valor nutricional para alimentação humana e animal, bioenergia, resistências às principais pragas e doenças, resiliência frente às mudanças climáticas e maior eficiência na absorção de nutrientes.
A segunda safra, em sucessão à soja, iniciou-se com uso de sorgo granífero. Os primeiros híbridos de sorgo lançados pela Embrapa, BRS 300 e BRS 304, foram preponderantes para o avanço da agricultura no Cerrado. O programa de melhoramento de sorgo granífero da Embrapa teve início há 48 anos, sendo um dos principais fornecedores de material genético para o Brasil, com contínuo suprimento de cultivares. Dentre elas, podem ser destacadas: BR 300, BR 304, BRS 307, BRS 308, BRS 309, BRS 310, BRS 330, BRS 332, BRS 373, BRS 380, BRS 3002 e BRS 3318.
O pesquisador Cícero Beserra de Menezes comenta que o programa já licenciou importantes cultivares de sorgo para silagem (BRS 601, BRS 610, BRS 655, BRS 658, BRS 659, BR 700, BRS 701 e Ponta Negra), além de sorgo de corte e pastejo (BR 800, BRS 801, BRS 802 e BRS 810).
Outra linha de pesquisa da Embrapa é o sorgo bioenergia, com alternativas dessa planta como fontes renováveis de energia. A Embrapa lançou três variedades (BRS 508, BRS 509 e BRS 511) para produção de etanol e um híbrido (BRS 716) para a produção de biomassa. Para atender a agricultura familiar, a Embrapa lançou também o sorgo BRS 900, que é do tipo vassoura.
Em 2022, a Embrapa Milho e Sorgo lançou, em parceria com o setor produtivo, o Movimento + Sorgo, com o propósito de expandir a área de cultivo e ampliar o conhecimento dos produtores sobre o potencial da cultura do sorgo para o País. “Atualmente, a Unidade possui 61 contratos de licenciados de sementes de sorgo. Os sorgos BRS 373 (granífero) e BRS Ponta Negra (silageiro e palhada) estão entre os materiais mais plantados no mercado nacional. O objetivo do projeto é dar continuidade a essas parcerias, buscando sempre a melhoria dos processos para dar sustentabilidade ao agronegócio do sorgo”, diz Menezes.
Sorgo para alimentação humana
A Embrapa Milho e Sorgo é pioneira nas pesquisas que visam o uso do sorgo na alimentação humana no Brasil. A pesquisadora Valéria Queiroz comenta que, desde 2008, diversos estudos vêm sendo realizados pela Embrapa e por parceiros. “Nossas pesquisas comprovam o potencial do sorgo como ingrediente para a produção de alimentos especiais (sem glúten, funcionais, “plant-based”, “eco-friendly”), por possuir propriedades nutricionais e antioxidantes superiores às matérias-primas disponíveis no mercado, podendo contribuir com a segurança alimentar e nutricional dos consumidores desses produtos”, diz Queiroz.
Genótipos de sorgo com altos teores de nutrientes e de compostos bioativos foram identificados, e suas ações na modulação de parâmetros relacionados a obesidade, inflamação, esteatose hepática, glicemia, disbiose intestinal e saciedade foram comprovadas em ensaios “in vivo”, com animais e humanos. “Além disso, diversos produtos sem glúten à base de farinha de sorgo foram desenvolvidos, como barra de cereais, pães, cookies, bolos, churros, cereais matinais, bebidas, entre outros, e apresentaram boa aceitação sensorial”, pontua Valeria Queiroz.
Milheto
O milheto (Pennisetum glaucum), em conjunto com o sorgo, compõe um mix de culturas trabalhadas na Embrapa Milho e Sorgo, além do milho. O pesquisador Flávio Tardin ressalta que o milheto é uma cultura caracterizada atualmente no sistema “Climate-Smart-Agriculture”, conceito inserido no universo da agricultura digital como linha promissora e necessária para o futuro sustentável da agricultura. “O milheto é uma cultura importante para compor sistemas de produção mais resilientes, mitigando riscos inerentes à atividade agropecuária inseridos em contextos e cenários de mudanças climáticas, crescimento populacional, combate à pobreza e incertezas nutricionais”, explica Tardin.
O programa de melhoramento de milheto da Embrapa disponibiliza no mercado as cultivares BRS 1501, BRS 1502 e BRS 1503. “O BRS 1501, disponibilizado aos agricultores no ano de 1999, é, até hoje, a variedade de milheto mais plantada no Brasil. Suas finalidades de uso abrangem desde a função de planta forrageira para pastejo, silagem e cobertura do solo, até a produção de grãos. Os grãos são utilizados na produção de ração animal e na alimentação humana. Além disso, o milheto é considerado um cereal sem glúten”, diz Tardin.
Insumos biológicos e soluções biotecnológicas
Atualmente, como bioinseticidas e insetos benéficos, a exemplo em diferentes culturas agrícolas. Nos , foram desenvolvidos , para o controle dos principais insetos-praga em milho, soja e algodão:
A Embrapa tem uma grande experiência no desenvolvimento de inoculantes solubilizadores de fosfatos e fixadores de nitrogênio. Em 2019, a Embrapa Milho e Sorgo, em parceria com a empresa Simbiose, lançou o BiomaPhos, o primeiro produto biológico registrado para a solubilização e disponibilização de fósforo para a cultura do milho. “Esse produto tem sido aplicado com sucesso em outras culturas, permitindo o aumento da produtividade e dos retornos econômicos, com maior sustentabilidade e preservação dos biomas brasileiros”, afirma Maria Marta Pastina.
O programa de biotecnologia aplicada da Embrapa tem gerado eventos transgênicos e dominado técnicas de edição gênica e predição genômica, associadas à seleção assistida por marcadores e à tecnologia de duplo haploides. Em 2022, a Embrapa Milho e Sorgo, em parceria com a empresa Helix Sementes, aprovou, na CTNBio, o BTMAX. Ele é o primeiro evento transgênico desenvolvido por empresas nacionais, e apresenta alta eficácia contra a lagarta-do-cartucho, considerada a principal praga da cultura do milho. “O BTMAX está em fase pré-comercial, devendo ser disponibilizado para os produtores rurais do Brasil (e do mundo) nos próximos anos”, relata o pesquisador Lauro José Moreira Guimarães.
Sustentabilidade em sistemas de produção intensificados
A intensificação produtiva revela-se como um fator extremamente positivo, com forte “efeito poupa-terra” e impactos na sustentabilidade da produção agrícola e pecuária, uma vez que a produção pode ser aumentada por meio de incrementos em produtividade nas áreas já abertas, sem necessidade de expansão para novas áreas de cobertura vegetal nativa. “A Embrapa Milho e Sorgo vem contribuindo na geração de conhecimentos, práticas e tecnologias que impactam positivamente o modo de produzir, intensificando o uso de áreas agrícolas, ao mesmo tempo que melhoram os indicadores de conservação de solos, de armazenamento de água e de captura de carbono nos sistemas produtivos”, ressalta o pesquisador Lauro Guimarães.
“Exemplos são as recomendações técnicas relacionados à adubação de sistemas (e não mais de lavouras específicas) e o manejo mais adequado em sistemas de fertilidade construída, associados a sistemas de plantio direto na palha. Avanços científicos e tecnológicos também têm impulsionado a adoção dos sistemas de produção intensificados chamados de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta, ou ILPF, e suas variações (ILP, ILF e IPF) e de sistemas de produção “carne baixo carbono” e “carne carbono neutro””, cita Guimarães.
Um sistema de cultivo intensificado inédito e disruptivo foi lançado pela Embrapa Milho e Sorgo em 2020 – o Sistema Antecipe. Essa tecnologia permite a antecipação, em até 20 dias, do plantio do milho safrinha nas entrelinhas da soja. Além de favorecer o estabelecimento precoce da cultura do milho, o Antecipe promove a intensificação sustentável dos sistemas, trazendo a possibilidade de uma terceira safra em algumas regiões brasileiras.
A base desse sistema é a utilização de um maquinário, uma plantadeira desenvolvida e patenteada pela Embrapa, associada a conhecimentos relacionados aos estádios fenológicos das culturas da soja e do milho. Com o plantio antecipado, o milho de segunda safra tem acesso a maior quantidade de chuvas do que se fosse implantado após a colheita da soja (liberação completa da área), com consequente aumento na produtividade e na produção bruta da área.
Últimos lançamentos
No ano passado, a Embrapa Milho e Sorgo lançou o híbrido superprecoce de sorgo BRS 3318, com alto potencial produtivo, alta sanidade foliar e baixo fator de reprodução de nematoides. Essa cultivar apresentou ótimo desempenho no Cerrado, especialmente na região Centro-Oeste, no Triângulo Mineiro e no Oeste Baiano, com produção de grãos acima de cinco toneladas por hectare.
Também foram lançadas as cultivares de milho BRS 4107 e BRS 2107, voltadas para os segmentos de baixa e média tecnologia, que conseguem produzir em condições menos favoráveis. Ambas são indicadas para todo o território brasileiro para plantio em safra ou safrinha. Outra novidade foi o milho híbrido XB 3042 VTPRO2, transgênico que combina duas importantes tecnologias: tolerância a lagartas e resistência ao herbicida glifosato. Essa combinação de características torna a cultivar altamente versátil, possibilitando o seu uso em diversos ambientes de cultivo em todo o Brasil.
Autora: Sandra Brito
Fonte: Embrapa