Pesquisadores do Etene e da UFC debatem impactos e ameaças de praga ao extrativismo do Semiárido

Técnicos do Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste (Etene) e da Universidade Federal do Ceará debateram em videoconferência, recentemente (25/09), o tema “Desafios do controle da praga Cryptostegia Madagascariensis”.
A palestra foi conduzida pelo doutor em Biologia Vegetal, coordenador do Programa de Pós-graduação em Ecologia e Recursos Naturais da Universidade Federal do Ceará (UFC), e pelo biólogo e professor, Rafael Carvalho Costa, referência em temas como estrutura da vegetação e estratégias de regeneração vegetal na Caatinga, dinâmica de populações de plantas e efeitos das espécies invasoras sobre ecossistemas nativos.
Originária da ilha de Madagascar, na África, a Cryptostegia Madagascariensis foi disseminada por atividades humanas em diversas regiões tropicais do mundo. No Nordeste brasileiro, ela tem se mostrado uma espécie invasora agressiva, afetando diretamente áreas povoadas pela carnaubeira, uma das plantas mais simbólicas e economicamente importantes da região.
Segundo o professor Rafael Carvalho, a espécie invasora cresce de forma trepadeira, utilizando árvores como suporte e recobrindo completamente suas copas. Esse comportamento impede a passagem da luz solar, levando à morte as plantas hospedeiras. Além disso, a praga compete com as espécies nativas por água e nutrientes do solo, o que amplia seus impactos negativos.
“Do ponto de vista ecológico, ela tem proporcionado a eliminação de espécies nativas em localidades onde ocorre a invasão. Isso acontece porque C. Madagascariensis é uma espécie que utiliza árvores como suporte para o seu crescimento, enrolando-se no caule das plantas infestadas. Através desse crescimento, a invasora recobre a copa da planta afetada, impedindo que receba luz, o que leva à sua morte”, explica o professor.
Ainda de acordo com o pesquisador, “outro problema, de ordem ecossistêmica, é a alteração de fluxos hídricos, com um provável aumento da área de transpiração vegetal em locais invadidos, o que pode levar ao ressecamento do solo”, acrescenta.
“Árvore da vida”
Do ponto de vista econômico, os danos também são expressivos. A carnaubeira, conhecida como ‘árvore da vida’, é fundamental para a geração de renda no semiárido nordestino, especialmente durante o período seco. Seu extrativismo sustenta milhares de famílias que dependem da coleta das folhas e da produção da cera de carnaúba, um produto de alto valor agregado e de ampla aplicação industrial, desde cosméticos e fármacos, até eletrônicos e produtos automotivos.
A expansão da praga ameaça diretamente essa cadeia produtiva, gerando prejuízos ambientais e sociais. A perda de áreas produtivas inviabiliza o trabalho de comunidades rurais, compromete a biodiversidade local e afeta a economia regional. Casos semelhantes foram observados em outros países tropicais, como a Austrália, onde terras invadidas pela praga perderam não apenas o valor produtivo, mas também o valor de mercado.
Atualmente o extrativismo da carnaubeira tem lugar de destaque na geração de renda para a população rural do semiárido, especialmente, na entressafra de outras culturas, não havendo ainda controle químico recomendado para a planta, sendo o manejo pelo roço ou arranque, que é complexo. Apesar das dificuldades, os diversos produtos da carnaúba trazem um alento econômico e social para as famílias nordestinas.
No período de 2019 a 2024, as exportações de cera de carnaúba superaram US$ 595 milhões, lideradas pelos estados do Ceará com US$ 358 milhões (60,24%) e US$ Piauí 231 milhões (38,89%), para um volume total de 94,39 mil toneladas, predominantemente da região Nordeste (99,91%). As exportações cresceram de 83,53 para 108,05 milhões de dólares entre 2023 e 2024, respectivamente, alta de 29,35%, com preço médio estável no período de US$ 6,31/Kg.
“Os esforços locais do Banco do Nordeste e parceiros visam contornar os desafios da atividade, não só apenas no controle da praga, mas de aspectos como viabilidade econômica, segurança do trabalho, qualificação profissional das famílias, inovações e noções de mercado, canais de comercialização de produtos artesanais, dentre outros”, destaca Luciano Ximenes, gerente executivo do Etene.